Posso definir cusco com um ♥? A cidade é linda e rodeada de belíssimas paisagens. E passar uns dias ali é um verdadeiro mergulho na cultura inca... e na sabedoria desse povo.
A cidade está no Vale Sagrado dos Incas, a 3400 metros de altitude. Sim, você vai sentir um pouco. E, sim, há meios para combater o soroche - ou o mal de altitude. Eu já havia ido para a Bolívia em outra viagem e não sinto tanto cansaço quanto outras pessoas, mas isso varia muito.
Para evitar ficar com os pulmões na goela, na cidade mesmo, em qualquer farmácia, você encontra o Sorojchi (se pronuncia "sorotchê") Pills - que, nada mais é que Ácido Acetilsalicílico (+ Salófeno + Cafeína). Ou uma Aspirina brazuca ou AAS também resolvem.
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| Gente, tem foto mais engraçada - e verdadeira - que a da propaganda? Ahahaha |
O mal de altitude geralmente dá dor de cabeça, tontura, podendo evoluir para náuseas e vômitos. Mas o principal efeito é você se sentir cansado, ofegante - respirar e sentir que precisa respirar um pouco mais, principalmente quando fizer um esforço físico. Por isso, chegar em Cusco uns dias antes de ir para Machu Picchu é o ideal, até o corpo conseguir se adaptar.
| Eu e meu irmão nos "entupindo" de Sorojchi Pills / (foto: Henrique Matsutani) |
Hospedagem
Em Cusco, ficamos num dos albergues mais legais da viagem: o Pariwana Hostel Cusco. E, sim, se você leu o post de Lima, deve ter reconhecido o nome - é da mesma rede da capital. Feito numa casa antiga da cidade, ele soube como restaurar o clima das casas coloniais espanholas - com um pátio, ao ar livre, no meio da casa - com o toque de modernidade que todo mundo quer: internet, água quente, etc e tal.
| O pátio fica assim, cheio de gente tomando sol para se aquecer no frio / (foto: divulgação) |
O albergue é bem legal, quartos limpos, ambiente tranquilo, internet grátis. E com agência de turismo dentro dele, para agendar passeios.
A cidade
No primeiro dia, aproveitamos para conhecer a cidade. O albergue ficava super perto da Plaza de Armas - local onde tudo acontece - restaurantes, agências de turismo, casas de câmbio, lojinhas, pontos turísticos.
Por ali também percebemos - a duras penas - que é o local que mais rola moeda falsa. E quando digo moeda, tanta faz se é moeda mesmo ou nota, por ali, tudo é motivo de falsificação. E não há outro jeito de você notar o que é uma cédula ou moeda falsa... até você pegar uma. Ou, então, peça para alguém da cidade tentar te explicar.
Você pode comprar o boleto turístico para visitar mais de um lugar (aqui tem explicando direitinho como funciona). O guia ou visita guiada em grupo geralmente não está incluso, mas é algo que dá para negociar na entrada dos museus da cidade.
Há vários locais para conhecer na cidade, fora do roteirão Plaza de Armas. Não vou lembrar certinho a ordem que fizemos, mas conhecemos o Museo Inka, que fica no Palácio Almirante, na Cuesta del Amirante, no. 103. Tem mais de 10 mil peças de uma coleção arqueológica de valor inestimável do povo inca. Vimos desde tecidos, cerâmicas, objetos de ouro... a múmias!
Na verdade, o local é mais antigo. O convento foi construído em 1534. Antes, era o Templo do Sol - ou Qorikancha, em quéchua. Foi feito pelo imperador inca Pachacuti, em pedras polidas que se encaixam perfeitamente. Os conquistadores espanhóis chegaram, expulsaram o pessoal dali e construíram uma igreja em cima.
Mas eis que um terremoto, em 1950, colocou a igreja católica abaixo, fazendo surgir as ruínas incas, que ainda resistiam - já que, como vimos durante toda nossa estadia em terras incas, eles eram mestres da engenharia e já faziam prédios para resistir aos tremores. Tudo isso hoje é possível ver lá dentro.
Também fomos ao Convento Santa Catalina. Hoje, o local abriga um museu de arte sacra, mas também é possível ver algumas ruínas incas, já que, antes dos espanhóis chegarem com seu catolicismo por ali, o local era a Casa das Virgens do Sol, mulheres nobres que cultuavam o... sol.
Logo que descemos e fomos para o jardim, aproveitamos para conhecer o Museo Arqueológico, com vários artefatos e múmias incas. O museu não é tão grande, mas é bacana de conhecer.
Logo que descemos e fomos para o jardim, aproveitamos para conhecer o Museo Arqueológico, com vários artefatos e múmias incas. O museu não é tão grande, mas é bacana de conhecer.
Também tem a catedral da cidade, na Plaza de Armas, e eu sei lá porque a gente não entrou. A catedral tem uma história interessante, já que demorou 100 anos para ser construída, ficando pronta só em 1659. Feita pelos indígenas (a força) da região, eles deixaram marcas provocativas na igreja: os assentos tem entalhes que remetem a PachaMama (a mãe terra), o Judas da pintura da Santa Ceia, à direita no altar, tem o rosto do sanguinário conquistador espanhol Francisco Pizarro e no centro do quadro, a comida é o cuy - bichinho típico da região (se quiser ver fotos dele, assado, pule lá pra baixo, nas últimas - sim, a gente comeu).
Ali pela Plaza de Armas, aproveitamos para fazer compras de frio - consegui comprar uma ceroula (uh) - a.k.a. calça térmica - para aquecer no frio (essencial na viagem), luvas, gorros, meias próprias de trekking, etc. Lá tem loja da North Face e outras marcas de aventura.
Também fomos pechinchar preços de passeios. Fechamos o de "Maras y Moray" e de Machu Picchu numa agência ali, que não lembro o nome. O do Vale Sagrado, fechamos no albergue mesmo - onde costuma ser um pouco mais caro. Vou me abster de colocar os preços, porque a viagem foi há 3 anos, então pode ter mudado. Mas é super tranquilo e todos os passeios que fechamos, foi cumprido o prometido.
Também fomos pechinchar preços de passeios. Fechamos o de "Maras y Moray" e de Machu Picchu numa agência ali, que não lembro o nome. O do Vale Sagrado, fechamos no albergue mesmo - onde costuma ser um pouco mais caro. Vou me abster de colocar os preços, porque a viagem foi há 3 anos, então pode ter mudado. Mas é super tranquilo e todos os passeios que fechamos, foi cumprido o prometido.
Vou descrever cada um deles - apesar de que valeria um post para cada...
Vale Sagrado dos Incas
| Uma das paisagens mais lindas de toda a viagem / (foto: Diego Estrela) |
Esse passeio engloba basicamente conhecer 3 locais: as ruínas de Pisac, as ruínas de Ollantaytambo e uma vila de artesãos mostrando a fabricação da lã em Chinchero. Mas há várias paradas: para tirar foto com llamas, para tirar foto de paisagem, para ir em indústria de prata, para almoçar, etc.
Se você optar pelo passeio em grupo, sai em conta. É turistão? É. Mas não achei nenhum inconveniente. Os horários foram ok, deu para aproveitar bem e, apesar de paradinhas como a da prata, que é meio "compre de nós, compre de nós", como não sou de cair nessa, saí andando por uma feirinha e achei o milho mais gigante que já vi na vida.
Ei-lo:
| Cada grão era do tamanho do meu dedão / (foto: Juliana Matsutani) |
Em Pisac, o programa é subir escada. E subir mais escada. E ainda mais. As ruínas são no alto de um montanha e chegar até o topo compensa a vista - e talvez este seja o momento que você vai realmente sentir o soroche. A visão do Vale lá de cima é bem linda.
Me perguntava se já não ia ver esse tipo de ruína em Machu Picchu e concluo: é diferente. Primeiro, toda a vegetação e, apesar de estar numa montanha, Machu Picchu consegue estar num lugar ainda mais acidentado do que esse.
Na foto abaixo, tá vendo que estou tentando mostrar algo numa montanha atrás de onde estou, né? Não dá para ver (e até de lá é difícil de ver), mas ali era o cemitério do povoado. Eles 'enterravam' seus mortos em pequenas cavernas. Vários dos corpos, mumificados, ainda estão lá.
| Tá vendo? Ali, ó / (foto: Diego Estrela) |
Seguindo viagem, fomos até um povoado, almoçamos (lembro de comer carne de llama!) e depois rumo a Ollantaytambo. O nome da cidade, difícil de se falar mesmo, é o que vale muito a pena desse tour, por ser um local diferente de todo o resto que você vai ver.
O sítio arqueológico está um pouquinho mais baixo que Pisac, a 2800 metros de altitude. Este é um dos mais preservados da região. O local foi estratégico pelo ponto de vista militar, religioso e agrícola.
O sítio arqueológico está um pouquinho mais baixo que Pisac, a 2800 metros de altitude. Este é um dos mais preservados da região. O local foi estratégico pelo ponto de vista militar, religioso e agrícola.
Logo na chegada, você passa por uma feirinha. Depois... adivinha... MAIS ESCADAS. Lá mesmo decidi que se dá para minimizar a coisa toda, vamos usar. Comprei um bastão de trekking que me foi útil a viagem inteira - levinho, de fibra de carbono (anrram, tá), ajustável e com a possibilidade de reduzi-lo até caber no meu mochilão.
Enfim... subidas as escadas, lá de cima o vento é uma coisa! E o interessante foi saber que os incas, já sacando tudo isso, fizeram na montanha em frente, onde o vento "bate", o estoque de comida. Ou seja, uma geladeira natural em tamanho gigante. No local também você percebe com bastante nitidez o que era a tal engenharia inca de encaixar as pedras como se fossem um verdadeiro quebra-cabeças. Os caras eram uns djênios.
Vídeo curtinho para se ter idéia da ventania que é lá em cima
Em Ollantaytambo, muita gente aproveita para ficar - e, por isso, já leva mala e cuia. É que dali parte o trem que vai para Águas Calientes, a cidade onde todo mundo se hospeda para conhecer Machu Picchu. Não era o nosso caso naquele dia.
Continuamos até Chinchero, onde chegamos já anoitecendo. Os incas achavam que era nesse local onde nascia o arco-íris. Hoje, é uma vila de artesãos, onde se faz a lã de alpaca e de ovelha. Os moradores fazem demonstrações de como a lã é tingida e depois todo o processo até fazer os famosos tecidos do artesanato peruano. Super bonito e interessante.
| Lãs e as ervas que servem para tingir cada uma delas / (foto: Carina Dourado) |
A volta foi à noite, naquele clima durmo-não-durmo. Só sei que foram poucas vezes que vi um céu tão estrelado e tão perto de mim como naquele dia. Fiquei acordada o tempo todo, boquiaberta olhando para cima. Um espetáculo a parte, que durou quase 1 hora - o tempo de volta para Cusco.
Maras e Moray
No dia seguinte, deixamos nossa bagagem no albergue e já com as mochilinhas menores, fomos de táxi, em tour privativo, para Maras e Moray, com a indicação do motorista nos deixar em Ollantaytambo para pegar o trem para Águas Calientes.
Fechamos esses dois passeios - Maras e Moray + Machu Picchu (com passagem do trem, hospedagem, tickets de ônibus, guia e entrada no parque) com uma agência da Plaza de Armas, o que facilitou a vida da gente bastante.
Esse tour não é todo mundo que faz. Particulamente, achei muito bacana, porque se vê outras "engenhocas" criadas pelos incas... como já disse, uns djênios da tecnologia da época. A sensação era de estar no Vale do Silício do período pré-colombiano nas Américas.
As Salineras de Maras são... salinas... construídas pelos incas e ainda em uso até hoje. A água, salgada na região (sei lá porque) desce das montanhas e é colocada para evaporar em tanques. Quando a água se vai, fica o sal.
O lugar é super interessante e você passeia pelos meios das salinas, vê as pessoas trabalhando, pode encostar, pegar, colocar na boca, enfim... né?
Maras e Moray
No dia seguinte, deixamos nossa bagagem no albergue e já com as mochilinhas menores, fomos de táxi, em tour privativo, para Maras e Moray, com a indicação do motorista nos deixar em Ollantaytambo para pegar o trem para Águas Calientes.
Fechamos esses dois passeios - Maras e Moray + Machu Picchu (com passagem do trem, hospedagem, tickets de ônibus, guia e entrada no parque) com uma agência da Plaza de Armas, o que facilitou a vida da gente bastante.
Esse tour não é todo mundo que faz. Particulamente, achei muito bacana, porque se vê outras "engenhocas" criadas pelos incas... como já disse, uns djênios da tecnologia da época. A sensação era de estar no Vale do Silício do período pré-colombiano nas Américas.
As Salineras de Maras são... salinas... construídas pelos incas e ainda em uso até hoje. A água, salgada na região (sei lá porque) desce das montanhas e é colocada para evaporar em tanques. Quando a água se vai, fica o sal.
O lugar é super interessante e você passeia pelos meios das salinas, vê as pessoas trabalhando, pode encostar, pegar, colocar na boca, enfim... né?
| Vista geral de cima... mas dá para descer e ir se equilibrando entre as lagoas / (foto: Carina Dourado) |
| Pedaços de sal retirados de uma das lagoas / (foto: Carina Dourado) |
Para se chegar até Maras, é um espetáculo a parte. As paisagens são belíssimas. Montanhas com picos de gelo, vale de rios, tudo encantador. A próxima parada depois das salinas foi Moray.
Ao que parece aos pesquisadores de hoje, Moray era um local de experiências científicas da época. O local é formado por vários círculos que vão descendo, como degraus, e se tornando cada vez menores. Os testes eram feitos em cada um desses patamares, já que a medida que se desce, o clima fica cada vez mais frio. Então, em cada nível, era testada a melhor temperatura para cada espécie.
(tem gente que ainda acha que era um local de espetáculos, já que a acústica de lá também é incrível)
Não tô falando que os caras eram os deuses de tecnologia da época? Você, sozinho, conseguiria ter pensado nisso?
Estávamos praticamente sozinhos no local, por isso, nos divertimos.
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| O que a liberdade de se estar sozinho não faz com as pessoas / (foto: Henrique Matsutani) |
Masss... como esse post ficou grande horrores, vou deixar para um próximo a grande aventura de Machu Picchu, que vale um capítulo só para ele, néa?
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E... gente, como ia esquecendo? A parte mais engraçada da estadia em Cusco: comer o CUY! Urgh!
O cuy é um tipo de roedor peruano, também conhecido lá como porquinho da Guinea - ou o nosso porquinho da Índia aqui. Vendo ele assado, não parece... mas lembre-se do bichinho peludinho e fofo que ele era. AimeuDeusdocéu, que eu não queime nas chamas por causa desse feito contra o próprio coitado.
| Ó o tamanho do bicho... / (foto: Carina Dourado) |
Eu sou a pessoa mais relax para comer em viagem. Quero provar TUDO. E... provei. Mas confesso que não gostei muito, tem textura de carne de frango, mas o gosto é de porco, beeeeeem forte. Urgh. Da próxima vez, passo. Mas acho que vale testar pela experiência.
| Antes de comer era só alegria - mas note a cara de desconfiada da Ju / (foto: Diego Estrela) |
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Outros links desse roteiro:
. Página 1 - Bolívia + Peru - o roteiro começa aqui
. Página 2 - Lima - uma capital de misturas
. Página 4 - Machu Picchu - a cidade perdida
. Página 5 - La Paz - uma cidade cercada de aventura
. Página 6 - Uyuni - o deserto de sal do sul da Bolívia
. Página 7 - Pisco e Ica - vamos a la playa?
. Página 7 - Pisco e Ica - vamos a la playa?


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